
Ministro da Fazenda debate retomada da economia
Publicado por: Ariane Subtil
O Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se reuniu com representantes da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Comércio, Serviços e Empreendedorismo (Frente CSE) para conversar sobre os pontos essenciais para a recondução da economia do país. O encontro realizado em Brasília, em 10 de agosto, contou também com a participação do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e de cerca de 40 parlamentares e representantes das entidades da União Nacional das Entidades de Comércio e Serviços (UNECS), que debateram as propostas do governo federal sobre as reformas tributária e previdenciária, e do ajuste fiscal.
Meirelles fez questão de transmitir um sentimento de otimismo em relação ao futuro econômico, apesar de o país ainda estar sob os efeitos da retração econômica. O ministro destacou que, depois de seis anos, a confiança dos empresários na economia brasileira começa a “crescer e forte”. “A crise foi gerada internamente, ao contrário da crise financeira de 2008. Ou seja, à medida que os gastos públicos começaram a crescer, os agentes econômicos começaram a se preocupar com a situação fiscal e o aumento das taxas de juros. No entanto, foi crucial fazer um diagnóstico correto e tomar as medidas adequadas, porque a confiança dos empresários e dos consumidores caía sistematicamente até cerca de dois meses atrás”, afirmou Meirelles.
Dentre as medidas citadas, o ministro destacou a transparência do governo em relação às contas públicas e, depois o empenho para fazer os ajustes de forma paulatina e integrada com outros entes públicos, como os estados e, principalmente, o Congresso. ”É importante que o governo dê o exemplo e controle as próprias contas, oferecendo mecanismos que possam parar o crescimento da dívida”, completou.
PERFIL CONSERVADOR
Henrique Meirelles voltou a Brasília em maio deste ano com a missão de ajudar a colocar a economia nos eixos e recuperar a confiança dos agentes econômicos. Com um perfil mais conservador quando o assunto é economia, ele foi escolhido pelo presidente da República, Michel temer, do PMDB, como a pessoa certa para assumir a cadeira do Ministério da Fazenda e reverter a atual situação de crise do país. Meirelles é conhecido por sua trajetória repleta de desafios. Em 2003, por exemplo, aceitou o convite para ocupar a presidência do Banco Central, a despeito da reação negativa dos mercados financeiros à vitória de Lula nas eleições presidenciais. À frente do BC, entregou por três anos a inflação abaixo do centro da meta oficial, e adotou uma política que elevou as reservas em US$ 250 bilhões. Dono de um currículo admirado pelo mercado financeiro, ele volta, agora, para ajudar um Brasil que há dois anos vive um cenário de notícias negativas. Nesses quatro meses como o cara da economia, Meirelles afirma que o trabalho realizado já vem apresentando resultados e que o país já está voltando a ganhar mais confiança. “É hora de o empresário retirar da gaveta o novo projeto. Se deixar para depois perderá a oportunidade”, afirma Meirelles.
Confira a entrevista exclusiva do ministro da Fazenda Henrique Meirelles à revista Varejo S.A.
A situação econômica do Brasil vem causando muita preocupação a toda população. De empregados a empresários, todos estão atentos aos rumos negativos que o setor vem tomando nos últimos tempos, e acabam adiando investimentos e novos projetos. Essas são as melhores soluções? Quais são as outras precauções que os brasileiros podem adotar neste momento delicado?
Os últimos anos foram um período bastante difícil para a economia, tanto que estamos enfrentando a recessão mais intensa da história. Temos que identificar os erros cometidos e aprender as lições, para não repetir os mesmos erros no futuro. Mas não podemos ficar nos lamentando. Por isso, neste momento, temos que trabalhar juntos – governo, empresários e trabalhadores – para reconstruir a economia e garantir um futuro melhor para todos. A rigor, estamos trabalhando desde o primeiro dia do governo e, como resultado desse trabalho, estamos vendo a economia reagindo e, em breve, veremos ela voltar a crescer. Então, é hora de o empresário retirar da gaveta o novo projeto, porque se deixar para depois perderá a oportunidade de sair na frente da concorrência.
Com toda essa incerteza, uma dose de pânico acaba se instalando, principalmente no setor de comércio e serviços. Com isso, tomam-se decisões precipitadas, que acabam destruindo importantes negócios. Como agir neste momento?
“Estamos vendo a economia reagindo e, em breve, veremos ela voltar a crescer.” Não há razão para pânico, nem para decisões precipitadas. Costumo usar a expressão “vamos devagar que estou com pressa” para indicar que é bom agir, mas com calma. Como disse antes, em breve a economia voltará a crescer.
Especialistas afirmam que são vários os motivos que levaram o Brasil a essa atual situação econômica. Mas um deles merece um destaque especial: a falta de investimentos, que acaba levando à perda de competitividade. Quais investimentos estratégicos estão sendo realizados para que o país volte a crescer? Há alguma estimativa para o restabelecimento econômico do país? Resumidamente, como se dará esse processo?
Houve queda na confiança de empresários e, sem confiança, não há investimentos. Mas a confiança está crescendo e o passo seguinte é o investimento. A volta da confiança no país, as privatizações e outras medidas que visam melhorar o ambiente de negócios trarão volumosos investimentos, principalmente em infraestrutura e logística. Com isso, a economia como um todo ganhará competitividade, será mais eficiente e produtiva.
Nesse mesmo caminho, o da competitividade, as estatísticas mostram que nos últimos anos a produtividade do país está em queda. Quais medidas devem e estão sendo tomadas para orientar o mercado e voltar a torná-lo mais eficiente?
Produtividade e competitividade andam juntas. Os investimentos que se anunciam para os próximos anos em logística e infraestrutura tornarão a economia mais produtiva e mais competitiva.
O aumento de impostos tem sido tratado como inevitável para o reequilíbrio das contas públicas. Não é possível conduzir o ajuste fiscal sem criar novos impostos?
A prudência recomenda não fazer afirmações definitivas, principalmente em momentos como o atual. Tenho dito que aumento de impostos é o plano C. Se, em último caso, houver aumento de imposto, será temporário.
Hoje, o setor do varejo é o que mais gera emprego e renda no país. Segundo o IBGE, são mais de 19 milhões de empregos formais. O governo federal planeja uma política voltada para os segmentos de comércio e serviços?
O objetivo da política econômica é a geração de emprego e de renda. À medida que a economia volte a crescer, naturalmente haverá mais empregos e os salários aumentarão. O varejo será o grande beneficiado, pois é no varejo que o trabalhador gasta a maior parte do dinheiro de seu salário.
Ainda de acordo com o IBGE, a participação do varejo no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é de 22,3%. O setor é sensível ao crescimento da economia. Na expectativa do senhor, o crescimento do PIB vai ser positivo? A retomada já começa em 2016, ou vamos precisar esperar o próximo ano?
As análises indicam que o ritmo da atividade econômica será melhor no segundo semestre do que foi no primeiro. Como disse, em breve teremos o crescimento do PIB, que é a quantidade de renda gerada no País.
Existe a expectativa de que a taxa de juros comece a cair a partir de outubro de 2016. Esse é um cenário real?
O Banco Central tem total autonomia para decidir sobre a política monetária. Considerando meus oito anos de experiência à frente do Banco Central, posso afirmar que a estratégia que traz resultados efetivos e duradouros para empresários e consumidores é aquela que garante uma inflação convergente para a meta.
No Brasil, a maior parte das políticas de incentivo é voltada para o agronegócio e a indústria, deixando de lado muitas vezes a inovação no varejo. Há previsão de criação de uma política de modernização e incentivo para o setor?
A economia é um sistema interligado. Quando um setor melhora, essa melhora é transmitida aos demais setores. Então, se houver um incentivo concedido ao setor A, B ou C, com o tempo, os benefícios serão espalhados para o restante da economia, inclusive o varejo.
Nos primeiros meses de 2016, as vendas do comércio varejista apresentaram uma queda de 7,3%. Novas políticas não seriam uma forma de ajudar a reverter esse dado negativo?
O cenário para a economia em geral, e para o varejo em particular, é positivo. Com a volta do crescimento, quem está na ponta das vendas, que é o comércio varejista, estará entre os primeiros segmentos beneficiados.
Fonte: Revista Varejo s.a.
Dirigentes Lojista / Ano 42 – nº 503
Setembro 2016 . Páginas 30 e 31.