26 março 20

Plano de Ação: Empresários vs COVID-19

Publicado por: Ariane Subtil

Os recentes desdobramentos da Pandemia do COVID-19 pelo mundo demonstraram um agravamento quase que exponencial do impacto esperado no sistema de saúde e na economia do mundo.

Um relatório produzido e distribuído pela BCG (Boston Consulting Group) no dia 20 de março, mostrou que a evolução do número de casos ao redor do mundo, provavelmente forçará a maioria dos governos à decretarem situações emergenciais de quarentena e lockdown para conter o contágio do vírus. E essas medidas já estão sendo tomadas.

Outro fator agravante para situação é que a previsão de uma vacina com capacidade imunológica contra o Coronavírus segue incerta.

Sendo que em conferência restrita para clientes no dia 20/03/2020, o Goldman Sachs estimou que as primeiras unidades devem estar disponíveis para o público nos EUA em algum momento entre o final de 2020 e começo de 2021, sendo que mesmo nesse momento, ainda teremos o desafio de escalar a produção à nível global.

E o motivo disso ser um agravante é que analisando historicamente, é comum que em casos como o do Corona, existam ondas de contaminação em massa.

Ou seja, mesmo que a atual onda de contágio seja contida, é possível, que até uma vacina seja desenvolvida, novas ondas de crescimento acelerado se repitam. 

Por isso, é seguro afirmar que neste momento não é mais possível tratar a situação como sendo somente “mais uma gripe” qualquer. 

E sendo assim, é dever de todo empreendedor e gestor estruturar um plano sobre como agir para proteger seu negócio e seu time diante dessa situação. 

Assim, preparamos um guia tático de ações que você pode tomar no seu negócio para conseguir navegar pelo atual momento.

1- AVALIE A SUA ATUAL SITUAÇÃO

O primeiro passo é avaliar qual a sua real situação atual. Reveja todos os seus contratos, seja de recebimento, quanto de pagamentos, e avalie cada um deles. Divida o seu plano de ação em duas partes:

Para os contratos que geram receita: aqui o seu objetivo é garantir que a receita já contratada, realmente aconteça. Lembre-se que seus clientes também estão sendo impactados pela crise, e vão tentar cortar custos. Assim é importante que você avalie como reter esse cliente para não perder receita e fluxo de caixa nesse momento. Entre as ações possíveis se encontram:

– Oferecer condições diferenciadas de pagamento (parcelamento) para não necessitar suspender os contratos e zerar o fluxo de pagamentos;
– Oferecer serviços extras com custo marginal baixo para reter o contrato (adicionar consultorias, serviços online, etc);
– Adiantar pagamentos com algum desconto (tente antecipar o recebimento futuro com algum desconto para o seu cliente, assim você garante mais caixa para suportar o momento atual).

Para os contratos que geram despesas: avalie todos os seus contratos com fornecedores e busque renegociar prazos, e valores. Comece analisando seus fornecedores com maiores margens, visto que eles normalmente possuem maior flexibilidade para negociar. Além disso, priorize contratos de maior valor, e ou que estão mais próximos, visto que eles gerarão maior impacto no seu fluxo de caixa.

– É importante nesse momento, porém, entender que a depender das cláusulas dos contratos, o seu fornecedor poderá simplesmente não aceitar as suas propostas de negociação.
– Outro ponto relevante é tomar cuidado com os pequenos fornecedores, que possuem menos margem ou fluxo de caixa. Lembre-se de que eles também estão passando por um momento complicado e podem quebrar caso você os pressione demais nesse momento. Assim, é recomendado que você avalie os termos dos contratos antes de iniciar a negociação, e sempre conte com apoio do seu advogado.

2- ASSUMA QUE AS COISAS SERÃO PIORES DO QUE O ESPERADO

Entenda que o fluxo de notícias e informações sempre possuí um atraso. O número de infectados de hoje, é um reflexo de quem foi infectado dias ou até mesmo semanas atrás, assim como o de fatalidades.

Assim, se você somente agir quando as notícias parecerem realmente ruins, você já terá perdido um tempo precioso, e acabará entrando no espiral da morte.

Talvez nesse momento você esteja pensando que a crise durará alguns poucos dias, talvez 2 semanas, e dificilmente mais do que 1 mês. Ou ainda que a sua receita caíra somente algo entre 10% e 20% ou 25% nesse momento. Mas não se engane, o melhor cenário nesse momento é entrar no modo sobrevivência.

Assuma que a crise durará por vários meses, pelo menos 3 ou 4, e que nesse período as suas receitas sofrerão um impacto de pelo menos 50%, e a depender do seu setor, podem até mesmo ir a zero.

Seu planejamento deve te permitir sobreviver a cenários extremos. Lembre-se: as perdas relacionadas a ser muito cuidadoso durante uma crise, são sempre inferiores as de ser menos cuidadoso.

3- MONTE UMA WAR ROOM COM O TIME DE LIDERANÇA

Para enfrentar esse momento, o ideal é que o time de liderança se comunique todos os dias revisando:

– O atual cenário;
– O que o negócio está fazendo (ações que foram planejadas);
– Qual está sendo o impacto de tais ações;
– Quais novas ações precisam ser implementadas;

Idealmente essas reuniões devem acontecer diariamente até que as coisas se resolvam, sendo sempre objetivas, e com foco em garantir a sobrevivência do negócio. Não é momento de pensar em planos de expansão, mas sim, em ações que te permitam atravessar o momento atual do mercado.

Além disso, você deve garantir que em cada reunião, serão listadas ações a serem tomadas pelo time para ajudar o negócio.

4- PROTEJA SEU CAIXA 

É altamente recomendável que você considere um cenário pessimista onde o seu negócio verá quedas que podem variar a algo entre 50 e 100% da receita.

Porém, você dificilmente conseguirá zerar seus custos, e por isso você dependerá das suas disponibilidades de caixa para sobreviver.

Acontece que um relatório feito pelo JP Morgan, mostrou que a maioria dos negócios possuí caixa disponível para somente 1 mês de operação. Ou seja: se ele precisar ficar mais do que 1 mês sem gerar receita, ele quebra.

Por isso, nesse momento é crucial que você avalie todas as medidas possíveis para que você proteja o caixa do seu negócio.

Defina um valor mínimo: para começar, defina um valor mínimo que você precisa ter em caixa, e comprometa-se a nunca ter menos do que aquele valor no banco. Esse valor serve como um trigger para você tomar medidas extremas, como demissões em massa no seu negócio.

Antecipe recebíveis: avalie todos os recebíveis que o seu negócio possuí, seja em termos de contratos, ou recebíveis de cartão de crédito com o seu processador de pagamentos. Lembre-se que em casos de crises prolongadas a liquidez do mercado diminui progressivamente. Assim, é importante que você tenha o dinheiro disponível na conta do banco para usar. Desse modo, avalie antecipar o recebimento, mesmo que isso signifique deixar algum dinheiro na mesa por conta das taxas de antecipação. E por falar nisso, dê preferências a utilizar instituições financeiras sólidas nesse momento. É altamente provável que milhares de pequenos negócios quebrem nesse momento, e com isso defaultem suas dívidas. Nesse cenário bancos e demais instituições financeiras de menor porte, podem ter problemas de liquidez, e caso você tenha dinheiro nessas instituições pode ficar impossibilitado de acessar o seu capital.

Utilize todas as fontes de crédito e financiamento possíveis: “Cash is king”, por isso, busque ter a maior quantia de dinheiro em caixa possível, e isso incluí a realização de dívidas e financiamentos. Ou seja, avalie linhas de crédito que você possa utilizar e ative-as antes que elas sequem. Mas cuidado: a ideia não é que você utilize esse dinheiro para pagar custos do dia a dia, distribuir dividendos, ou expandir nesse momento. Mas sim para que ele sirva de reserva para casos extremos. No cenário ideal, você não utilizará esse dinheiro, e poderá pagar integralmente os empréstimos, somente com os juros do período em poucos meses.

5- ATUE COM O SEU TIME

Seu time também é parte importante da sua estratégia nesse momento, e por isso existem algumas ações que você pode tomar: Home Office; Renegociação de salários, férias, e suspensão de contratos; Cuidado com demissões.

6- ACOMPANHE NOVAS LEIS E MEDIDAS

Devido ao atual estado de pandemia, os governos estão se movimentando e buscando aprovar medidas para ajudar todos a superarem os desafios da crise.

Com isso, novas MPs, Leis e similares estão sendo promulgadas quase que diariamente, e sendo assim é importante que você acompanhe tais movimentações. Abaixo separamos algumas que já foram instauradas:

Postergação do Pagamento do Simples: de acordo com a Resolução CGSN 152/2020 do Comitê do Simples nacional, o pagamento da DAS referente ao simples das competências de Março, Abril e Maio, que deveriam ser pagas em Abril, Maio e Junho, foram postergadas. Importante ressaltar de que as mesmas ainda deverão ser pagas em datas futuras (Outubro, Novembro e Dezembro), e portanto isso deve ser considerado no seu planejamento de desembolso de fluxo de caixa.

Atraso de débitos com o governo: avalie o impacto da Medida Provisória nº 899/2019 (MP do Contribuinte Legal) no seu negócio.

Recolhimento do FGTS e INSS: o Governo federal anunciou que pretende autorizar que o recolhimento do INSS e FGTS da folha de pagamento seja postergado por três meses a partir de Março/2020 (poderão ser postergados os recolhimentos em Março, Abril e Maio de 2020). Importante ressaltar de que deverão ser compensados no futuro. Importante:fale com seu advogado trabalhista antes de tomar qualquer ação nesse sentido.

7- CONTE COM UM ADVOGADO

É importante que antes de tomar qualquer decisão com base nas medidas pulicadas pelo governo, você valide com o seu advogado se elas são aplicáveis par ao seu caso.